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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Dia de Finados

Finado... particípio passado do verbo finar.

Finar-se de: padecer de; morrer de.
Finar-se por: desejar ardentemente.

Finado é alguém que desejou tão ardentemente viver, que correu o risco de morrer.
Um último título, uma última glória a quem só é passado no dicionário.
Pois finado amado é lembrança que não passa, não tem data, nem se esgota.

Como diz o poeta Célio Pedreira, "saudade não encerra uma noite só... dura estrelas."


(À minha vó Terezinha)

domingo, 14 de agosto de 2011

Intercâmbio [...o final]


Saudade só existe em português, mas foi aprendendo um novo idioma que fiz dessa palavra uma eterna companheira.

Eu podia contar sobre o meu desespero na primeira noite em Londres, do quanto chorei, enquanto me obrigava a lembrar porque estava ali.


Podia descrever como, aos poucos, desconhecidos tornaram-se amigos preciosos, um restaurante que já conhecia do Brasil tornou-se meu emprego em Londres ou como aprendi a dizer não e a estar muito mais disposta a dizer sim.


Podia tentar expressar cada aprendizado e cada emoção que vivi nesses seis meses, mas jamais seria capaz de resumir a experiência de viver um intercâmbio ou como isso me afetou.


Quando se constrói um lar do outro lado do mundo é como se esse mundo ficasse menor e todos os seus sonhos parecessem possíveis. Em compensação, de repente toda essa distância fica tão importante que parece maior.


Antes de viajar, meu pai confessou sua preocupação: "e se você gostar de lá e não quiser voltar?" Eu respondi: "mas só valerá a pena se eu não quiser voltar." A felicidade de ter algo é proporcional a dor que se experimenta quando se perde. Eu sabia que quanto mais valesse a pena, mais doloroso seria deixar tudo para trás.


As pessoas me perguntam como está a minha readaptação a Salvador. Eu nunca precisei de mais de um dia para me adaptar a qualquer lugar. O meu problema é lidar com a falta que as pessoas me fazem. Nesse quesito, não sei quando me sentirei de novo totalmente em casa.

_________________
Exchange [...the end]

Saudade* only exist in portuguese, but was learning a new language that I did this word my eternal companion.


I could talk about my hopelessness in the first night in London, how I cried while I forced myself to remember why I was there.


I could write how, gradually, strangers became precious friends; how one restaurant which I knew from Brazil became my job in London; how I learned to say no or how I became more willing to say yes.


I could try express each learning and each emotion I have had in this six months, but never I could summarize the experience of live a exchange or how this affected me.


When you build a home in another place in the world it is as if the world become smaller and all your dreams looks like possible. On the other hand, suddenly this distance becomes so importante that looks like bigger.


Before travel, my dad confessed to me your concern: "if you like so much there and don't want come back?" I answered: "but just will worth if I don't want come back." The happyness when you get something is proportional to the sadness when you lose it. I knew that as worthwile was, as painful would be to leave everything behind.


People ask me how is my readaptation to Salvador. I never needed more then one day to adapt to anywhere. My problem is miss the people. In this case, I don't know when I'll feel totaly at home again.

______

* saudade means miss someone or something.


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

"É incrível o poder que as coisas parecem ter quando elas precisam acontecer." Caetano Veloso

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Não me vi crescer.


Estou ouvindo agora uma música que me lembra a primeira fase de Malhação (Every breath you take), aquela que tinha Claudio Heinrich como Dado, Danton Melo como Héricles e onde Bruno de Luca ainda não era unanimidade, mas só uma criança, como eu naquela época.

O que mudou em mim desde 1995?

Em alguma altura da vida a gente se pergunta essas coisas. Tenta se lembrar de como era e fazer uma reflexão sobre quem é hoje. Talvez numa tentativa de se perceber crescendo, ou mesmo numa simples análise entre as expectativas que tínhamos e quem nos tornamos.

Eu era uma criança que brincava muito na rua, mas que sempre guardava um tempão para a televisão. Me lembro de assistir emergência 911 e Plantão Médico sozinha, na sala, e ficar impressionada com aquele bando de coisas que eu não entendia, mas que me pareciam fantásticas.

Ontem eu vi a Sandy na Gabi e me dei conta mais uma vez do tempo que passou. Sou da geração que cantava e dançava com a dupla Sandy e Júnior e agora posso assistí-la numa carreira solo, cantando divinamente, compondo, casada e cada dia mais segura de si. Sim, continuo fã. Pelo talento e pela personalidade dela.

Mas e então, eu sou hoje quem eu sonhava que seria? A resposta é não e carregado de um ufa!. Pra essa resposta ser sim eu teria que ser muito óbvia ou focada a ponto de não olhar para os lados e me permitir mudar. Não seria eu.

Não seria a garota que é capaz de batalhar dia e noite por algo, mas que ao perceber que batalhou pela coisa errada dá meia volta e recomeça em outra direção;
Não seria a mulher que não sabe o que quer, mas que assim mesmo luta pelos próprios sonhos, numa obstinação no escuro que sente ir no caminho certo;
 Não seria alguém de personalidade forte, meio brava, meio doce, que muitos definem como generosa e outros tantos como egoísta. 

Ser uma contradição é tarefa complexa e difícil, mas me veste sob medida. 
Sou fria, mas não calculo. Sou quente, mas não extrapolo. 
Não sou exemplo de ser, tampouco de não ser, mas estou longe de ser morna.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Uma segunda chance para Paris

Quem nunca sonhou em conhecer um lugar, uma pessoa? Quem nunca se encheu de expectativas e caiu lá de cima quando as coisas não foram exatamente como nos sonhos? 

Quando assisti O Fabuloso Destino de Amélie Poulain imaginei a minha Paris. A cidade me parecia romântica, viva, cheia de cores e coisas prontas para serem descobertas. Decidi fazer intercâmbio e escolhi Londres, mas era Paris quem me prometia a Europa.

Fim de semana passado finalmente desembarquei na Cidade Luz, para uma viagem que não cumpriria nem um quinto das suas promessas. Passei por momentos de terror e ao fim de três dias respirei de felicidade ao voltar para Londres.

Foram muitas informações erradas, muita gente que não sabia ou fingia não saber inglês e por isso nos deixava ainda mais perdidas. Fomos seguidas e, por fim, roubadas no nosso próprio hotel.

Muitos disseram que a gente deu bobeira, que mesmo sendo hotel e bom, tem sempre que trancar a mala com cadeado. Mas quando é que a gente faz isso? Quando é que a gente conhece alguém bonito, interessante, engraçado, que nos envolve completamente e lembra de trancar o cadeado, de manter um pé atrás, de não se jogar de cabeça e sonhar que aquele instante continue para sempre? Quando é que a gente lembra que expectativas são apenas expectativas e não um contrato com a realidade? E que crueldade as coisas acontecerem diferente. 

Mas eis que a vida real segue seu curso, apesar dos nossos planos, e é preciso um pouco de esperança e fé para olhar a realidade não sonhada e aprender a partir dela. Aprender a amá-la ou aprender com ela o que será preciso para amar as experiências que virão. 

Paris foi um desastre. Talvez apenas uma viagem a esquecer ou uma lição árdua e valiosa, como toda desilusão. Mas um dia eu volto, já despida das minhas expectativas. Como uma segunda chance a um amor que na hora de acontecer encontrou obstáculos, mas que nada impede de tornar-se o amor da minha vida.


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ainda quero ser dona-de-casa?


Três anos atrás escrevi um artigo, cujo o título era Quero ser dona-de-casa, para ser publicado num extinto blog de amigos, O Pequeno Burguês. Fiquei absolutamente surpresa quando vi o número de acessos, uma vez que o blog tinha como tema política e economia. Algo que naquele meio parecia tão "doméstico", afinal demonstrou-se interessante.

Algum tempo depois do blog sair do ar resolvi que era hora de iniciar o meu próprio blog e evitar que aquele texto deixasse de ser visto. Hoje, muito tempo depois, esse artigo ainda é o mais lido do meu blog e também o mais comentado, invariavelmente por mulheres que compartilham dos ideais defendidos no texto e que encontram, naquele pedacinho de linhas, um apoio às suas decisões.

Ontem, contudo, uma das leitoras, a qual encontrou meu blog ao pesquisar a frase "quero ser dona de casa", me perguntou se ainda penso do mesmo jeito e pediu que a respondesse. Diana, continuo pensando na mesma direção, mas com um olhar diferente.

Ao longo desses anos me questionei muito sobre casar e ter filhos e por algum tempo resolvi que essa idéia não cabia mais a mim. Filhos... fiquei com medo de tê-los quando percebi que a minha idade mudou muito, mas continuo me sentindo uma aprendiz da minha própria vida. Ao notar, entretanto, que amo o jeito como os meus pais erram tentando acertar, essas dúvidas ficaram pra trás.

No que se refere a ser dona-de-casa, estou no meio de um imbróglio. Adoro a cena em que eu tenho tempo para estar presente na vida dos meus filhos, educá-los e aproveitar cada momento. Gosto de cuidar daqueles que amo e não casaria sem amar, logo cuidar do meu marido também me faria feliz. Quem teve calafrios ao ler isso, por favor, supere a idéia de que cuidar de marido é se sujeitar. Aquela cena da mulher que passa o dia cozinhando e esperando o marido para lhe tirar os sapatos quando ele chega do trabalho já está mais que superada.

O que tem me colocado pra pensar é: eu não tenho estudado a minha vida inteira por ser aquilo que esperam de mim. Na infância talvez, mas em algum momento tomei o rumo da minha vida e estudar passou a ser uma decisão minha. Estudo pra conhecer, mas também pra realizar. Não quero imaginar que construir uma família signifique abrir mão de uma carreira, pois isso também é parte daquilo que sou.

Em Economia há um conceito chamado Custo de Produção, que significa que o custo de produzir alguma coisa não é somente os gastos que você terá, mas também os lucros que você eventualmente deixará de ter ao não produzir outro tipo de coisa. Deixar de trabalhar pra ser dona-de-casa ou não cuidar da minha família pra me dedicar exclusivamente ao trabalho são caminhos que me custariam caro o bastante pra eu decidir que nenhum dos dois é o suficiente pra mim.

Eu não sei exatamente o que nós mulheres aceitamos quando dizemos sim a um pedido de casamento ou quando decidimos nós mesmas o propor, mas tenho certeza de que essa resposta não é igual pra todas nós. Mesmo as que desejam ser donas-de-casa não o decidem, nem o serão, sob as mesmas condições.

Minha resposta mais honesta: minha única certeza hoje é que quero ser dona-do-meu-nariz.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Casamento Real


Muito antes da tão esperada data, para todos os lados em que se olhava de Londres era possível encontrar um souvenir com a imagem do casal, Kate e William. Nas duas semanas que antecederam o casamento, bastava abrir os jornais para descobrir se Kate Middleton emagreceu, onde ela apareceu , quais as surpresas que os dois estavam preparando para a cerimônia, gente importante que foi convidada, desconvidada ou estava indignada por não ter recebido o tão esperado convite.

Sempre tinha, é claro, quem dissesse que não se interessava pelo assunto, que tinha mais o que fazer ou que não via a hora de que tudo isso terminasse. Pros comerciantes foi um sucesso, deu uma acelerada na economia, que andava meio em marcha lenta. Mas quem comemorou mesmo fomos nós, mulheres. Ah, você pode não ser a favor da Monarquia, achar um absurdo tanto falatório por um casamento, mas assistir a uma plebéia casar-se com um Príncipe é como ver acontecer aqueles  livros e filmes que tanto nos emocionam e fazem torcer para ser também uma princesa. A verdade é que ela, diferente dos contos de fadas, não virou princesa, virou Duquesa, e agora não é só apertar o botão de "feliz para sempre", há uma longa jornada.

Os jornais não cansam, desde que o noivado foi anunciado, de comparar a Kate, agora Catherine Elizabeth Duquesa de Cambridge, com a Lady Diana. Afinal, ela era também uma plebéia com um príncipe e simplesmente partiu nosso coração o final dessa história. Dessa vez, no entanto, a esperança é grande, pois eles são namorados de muito tempo e ficam com os olhos brilhando ao olhar um para o outro. A cena mais bonita do casamento, por isso, na minha opinião, foi quando ele a elogiou assim que ela chegou ao altar. Foi natural, verdadeiro e fez daquele evento pomposo e lotado de gente, uma cerimônia íntima e aconchegante.

No mesmo dia do casamento, 29 de abril de 2011, por volta das 16:00h (Londres) o jornal London Evening Standard apresentava sua edição com a cobertura completa da cerimônia. Todos queriam o seu exemplar como mais uma lembrança e, porque não, como uma prova de que fez parte desse momento. Goste ou não de casamento, defenda ou não a Realeza, não há quem resista a admirar um amor de verdade e esse casamento é real por muito mais motivos que uma coroa.





domingo, 17 de abril de 2011

Intercâmbio [Na metade...]


Não sei se mudei aos olhos dos outros, mas aos meus próprios olhos eu jamais serei a mesma.

Ouvirei as palavras nunca e impossível com incredulidade
Duvidarei de quem disser que se acostuma com saudade
Olharei os homens de sonhos com admiração
E os de sonhos quebrados com piedade.

A cidade que me assustou de início, de sinal em sinal me aponta o caminho.

terça-feira, 5 de abril de 2011

E os pobres, quem defende?



Estão todos indignados com o Deputado racista e homofóbico. Querem-lhe a cabeça numa bandeja. Se fosse um artista que usasse do espaço que ocupa na mídia para propagar idéias como essas, eu ficaria surpresa, mas trata-se de um político, eleito para nos representar com suas idéias e bandeiras, por isso estou mesmo é chocada. Chocada por perceber que o buraco onde colocamos nossos preconceitos é muito mais embaixo.

Apesar de tudo e sem nenhuma intenção de minimizar o horror das declarações, estas somente estão sendo combatidas com tanto fervor porque, embora firam uma minoria, esta é representada. Nós temos políticos, artistas, gente com voz e vez, negros e homossexuais. E a discriminação sofrida pelos pobres, quem discute? Pobre não chega ao poder. Quando chega, deixa de ser pobre.

Outro dia aqui em Londres, numa famosa rede de fast food, eu presenciei uma cena chocante e que me jogou na cara o meu próprio preconceito. Nessa mesma lanchonete, a todo instante entram pessoas para usar o banheiro. Não compram nada, apenas vão até os banheiros, usam e vão embora. Ninguém reclama, afinal eles tem o perfil do cliente. Pois um senhor de rua juntou suas moedas, comprou um hambúrguer e ia se dirigindo até as cadeiras para sentar e desfrutar de um serviço disponível aos clientes, grupo ao qual ele acabara de pagar para pertencer. Não foi o bastante. Não bastava pagar pelo hambúrguer, seria preciso pagar também por um banho, barbeiro, roupas novas e perfume. Ele foi impedido de sentar-se. A sua expressão de dor, de indignação e impotência me feriram de uma maneira insuportável. Ao sair, ele cuspiu na porta, como que para demonstrar que era ele quem tinha nojo de tudo aquilo. A fome deve tê-lo obrigado a comer aquele pão de humilhação e pensar nisso me fere ainda mais.

Que tipo de pessoa somos nós? Ele não foi impedido de entrar porque o gerente é preconceituoso, como o Deputado Bolsonaro. Ele foi impedido de entrar porque nós sentiríamos repulsa e constrangimento ao comer ao lado de um senhor de idade sujo, vestido de trapos e com dinheiro somente para comprar um hambúrguer. Ele foi barrado porque quando a gente paga pelo mesmo hambúrguer que ele, a gente também paga pra sentar num lugar fechado, onde não precisamos lembrar que milhares morrem de fome enquanto a gente se sente cheio demais pra tomar todo o refrigerante depois do sanduiche e batata.

Bolsonaro é um ignorante num assunto em que muitos de nós já somos esclarecidos: cor não define e sexualidade é opção. Mas e se Preta Gil não perguntasse pela mulher negra, mas pela pobre e sem estudo? Qual seria a resposta? De que tamanho seria a nossa indignação?

quarta-feira, 30 de março de 2011

Oxford - England

Uma cidade pequena, aconchegante, cercada de cultura e história. Chegar em Oxford é como ser transportando para uma outra época. Não se vêem arranha-céus e prédios com arquitetura inovadora, como uma senhora que não se arrisca a colocar uma saia mais curta, mas uma exibição orgulhosa de construções antigas, como se a cidade inteira fosse um só castelo.

Pode-se conhecer tudo a pé e a nossa primeira caminhada nos levou ao Museu de Ashmoleam.  Logo na entrada são entregues dois papéis: um com uma sugestão de qual seria a melhor ordem para visitar o Museu e o segundo com o nome e localização das obras mais famosas. É um procedimento aparentemente comum na Inglaterra e que faz uma pessoa metódica como eu pular de felicidade. O acervo é maravilhoso, mas a preocupação em educar os seus visitantes me encheu os olhos. Há inúmeras ações de conscientização espalhadas entre as obras de arte, como as das fotos seguintes. 
Depois do Museu, fomos almoçar num calçadão, onde se viam muitos artistas de rua se apresentando e uma ação promovida por japoneses para angariar fundos e ajudar na recuperação do Japão. Por uma boa causa, me arrisquei num biscoito feito de chá verde. O bichinho era feio de doer, mas uma delícia.
Após o almoço a meta era ir direto à Christ Church, onde foram rodados os filmes de Harry Potter, mas havia uma livraria no meio do caminho. No meio do caminho havia uma livraria. Fiquei nervosa. Qualquer livro era somente £2. Qualquer um! Comprei três livros e por mim voltava em Oxford só pra passar um dia inteirinho por lá.
Comprados os livros, finalmente Harry Potter! Era mais que apenas um ponto turístico pra mim...

Assisti Harry Potter pela primeira vez aos treze anos, mas foi aos 17 que me apaixonei. Estava no cursinho pré-vestibular quando resolvi que merecia/precisava de um descanso. Li os 5 primeiros livros de Harry Potter, que somados são 2.203 páginas, em uma semana. Ia pra todas as aulas, mas era só o professor parar pra respirar que eu sacava o livro e lia mais um trecho. Era viciante, relaxante e incrível. Depois comprei o 6º livro já na pré-venda e li em dois dias assim que o recebi. O 7º eu até tentei, mas não consegui esperar. Li da internet mesmo. Depois comprei o livro de verdade e reli, amando cada página.

Explicada a minha paixão, vocês podem entender a emoção que eu senti com essa visita. Eu vi, toquei e tirei foto da escadaria em que Harry conhece e enfrenta Malfoy pela primeira vez; do salão comunal, onde, entre outros acontecimentos, o chapéu seletor coloca Harry na Grifinória; do gramado onde acontecem os torneios de Quadribol. A sensação é parecida com a de  ser fã de um desenho animado e comprar um boneco do personagem favorito. Dá tristeza que ele não fala, não anda, não se mexe, mas é muito bom assim mesmo. Faltou Hogwarts existir de verdade, mas estar lá foi incrível.

Visitamos ainda alguns campi da Universidade de Oxford e terminamos nosso dia num Pub (mais inglês, impossível), onde conhecemos alguns brasileiros e ficamos até a hora da partida. Foi quase triste voltar pra Londres...

quarta-feira, 23 de março de 2011

St. Patrick's Day



Que dia é esse que transforma uma cidade em verde, que deixa os pubs com cara de sábado em plena quinta-feira, que faz a gente ter vontade de saber tudo sobre a Irlanda e experimentar cerveja preta?

17 de Março, St. Patrick's Day, é um dia divertido e muito esperado. Os principais pubs irlandeses de Londres mantiveram cronômetros gigantes fazendo contagem regressiva.

St. Patrick, curiosamente, não era Irlandês. Na verdade ele foi raptado adolescente por piratas e transformado em escravo na Irlanda. Num sonho, disse ter recebido de Deus instruções que o levaram à libertação. Mais tarde ele quis voltar à Irlanda, já como Bispo, e evangelizar o povo. E agora é que aparece o tal do Trevo de três folhas, tão propagado e principal símbolo decorativo desse dia. St. Patrick usava essa folhinha para explicar a Santíssima Trindade. Eu, na minha Santíssima ignorância e superstição, JURAVA que St. Patrick's Day era um dia de sorte e que o trevo era o talismã. Pelo menos o pensamento positivo deu certo.

Patrícia, que aparece comigo na foto aí embaixo, tinha perdido o passaporte dela. O que é um problemão! Se você tiver o seu passaporte furtado ou perdido, você precisa ir até uma delegacia e prestar queixa. Feito isso, você deve se dirigir ao Consulado Brasileiro, numa transversal da Oxford Street, em posse de inúmeros documentos e solicitar o novo passaporte, que sai no mesmo dia, mas que te custará £128,00. Claro, se você tiver a "sorte" de só perder o passaporte depois de já ter feitos todas as viagens que você queria pela Europa e agora sua única vontade é voltar para o Brasil, basta solicitar uma autorização de retorno. Esta também será paga, não sei ao certo o preço, mas acredito que seja mais barata.

Enfim... achamos o passaporte! Depois dessa, só tomando algumas Guinness e brindando ao padroeiro da Irlanda!

terça-feira, 15 de março de 2011

Tô na Europa, mas não tô besta!


Tô é com saudade da minha carne assada com farofa de banana, de falar oxente e todo mundo me reconhecer baiana, de sentir calor na beira da praia e tomar água de coco.

Saudade de chamar quem eu não conheço de meu tio, de chamar de meu um pai que também é dos meus irmãos, de usar a fama de preguiça, que alguém ousou um dia dizer que eu tinha, pra tirar um descanso dessa vida corrida sem me preocupar.

Sei que tô na Europa, o centro do mundo, falando inglês, que é chique e universal, mas trocava fácil o "fish and chips" por um acarajé com vatapá.

Tô em Londres, essa cidade grande e com gente do mundo todo. Onde até relógio é famoso e não ser pontual é que é exceção. Mas ah, minha Bahia, nessa terra de rainha, minha saudade é do "meu rei".

domingo, 13 de março de 2011

Nine Thousand

Ela que esperava ansiosamente por ele, finalmente foi convidada. Ela que ficou com o gosto do último beijo, foi encontrá-lo. Ela que sentia o adeus próximo, resolveu estender os minutos fingindo que o tempo estava parado.

Eles tomaram café e falaram do mundo. Eles tomaram cerveja e falaram de si. Ela se enrolou nas cobertas e tentou lembrar de cada minuto dos últimos dois meses.

Ela mal disfarçava a ansiedade pelo primeiro beijo. Ela pensava: se ele não beijar, eu beijo. Ela sonhou e só então conseguiu dormir.

Ela tremeu dos pés a cabeça quando os lábios dele a tocaram. Ela relaxou os ombros e quase foi feliz quando ele a beijou. Ela acordou para sonhar desperta.

No fim da noite ela queria casar. Quando se despediram, ela não queria deixar. Quando levantou da cama era só saudade.

quinta-feira, 3 de março de 2011

"Questão de segurança"


Ontem, como de costume, fui pegar o metrô na Estação de Piccadilly para voltar para casa. Já havia descido as escadas e me aproximava do corredor que dá acesso ao trem, quando ouvi a mensagem: "por questão de segurança, todos devem deixar a estação imediatamente!" A voz insistia. Todos começaram a sair. Já próximo da saída perguntei a uma das pessoas responsáveis pela estação o que estava acontecendo. Recebi a resposta: "O que está acontecendo não importa, você precisa deixar a estação." Saí. Já na rua a gente podia ouvir e ver vários carros da polícia, sirenes ligadas, passando apressados. O que aconteceu?

Ninguém sabe dizer. Quem mora aqui responde com naturalidade: "Pode ser qualquer coisa: incêndio, bomba...". Bomba? Pois é, pode ser. Ninguém sabe, nada nos jornais... aliás, no jornal de hoje tinha essa propaganda no mínimo interessante.

Terrorismo. Que coincidência! Ontem à noite assisti a um filme que me deixou perplexa: "Jean Charles", a história de um brasileiro inocente que foi morto por esse medo que impede de pensar e que se espalhou pelo mundo depois de 11 de setembro. Para quem não lembra da história... duas semanas antes, terroristas explodiram uma bomba em um ônibus de Londres. Queriam, segundo eles, fazer-nos sentir a dor de ver nossos inocentes serem mortos sem qualquer razão. Uma resposta a essa guerra sem explicação no Iraque.

Desde o ataque às Torres Gêmeas, o mundo assiste à ruína da liberdade individual. Ir e vir nunca foi tão difícil, milimetricamente inspecionado e perigoso. Jean Charles foi morto na estação de metrô Stockwell, com sete tiros na cabeça, porque o confundiram com um muçulmano, que era suspeito de ser um dos terroristas foragidos. Ou seja, bastava ser/parecer um muçulmano, na hora errada e no lugar errado para ser morto sem qualquer chance de se defender.

Antes de vir, imaginava que numa cidade cosmopolita como Londres, onde você cresce com gente de todo o mundo, racismo seria o último sentimento que eu encontraria. A verdade é que de perto não há mistura. Sim, tem gente aqui de todo o mundo, mas tem a região dos Chineses, a dos Indianos, a dos Brasileiros, a dos Turcos... Eles não crescem juntos, crescem se vendo, mas sem se entender. Até algumas igrejas tem horários diferentes de missa para cada povo. De manhã um, de tarde outro e de noite outro. Qual a explicação? Dizem que é mais fácil orar na língua nativa. Hã? Essas mesmas pessoas passam o dia todo conversando, trabalhando, estudando, fazendo seja lá o que for, em inglês, por que na hora de rezar terão dificuldade a ponto de justificar uma segregação?

O problema, no entanto, é que se tal grupo é vítima de preconceito, esse mesmo grupo é preconceituoso com outras pessoas. Já ouvi tantos absurdos, formando uma cadeia sem fim de discriminação, que quase perdi a fé num mundo livre de preconceitos.

Enquanto houverem guetos sociais, raciais, nacionais, religiosos...
Enquanto não perguntarem primeiro e só atirarem depois...
Enquanto a vida daqueles que desconhecemos não tiver o mesmo valor da vida daqueles que amamos, não teremos espaço para um mundo de paz. Paz pressupõe entendimento, que não exige um mesmo idioma, mas um mesmo gesto: respeito.


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Custo para ficar... LONDRES


Ouvi certa vez em uma palestra que a razão de muitas empresas irem à falência tão cedo no Brasil é que nós somos muito otimistas. Parece engraçado, mas é a mais pura verdade. A gente planeja cenários ideais e dificilmente eles se reproduzirão na nossa frente. A receita: planeje pessimista e mantenha o otimismo.

Essa máxima se aplica também na hora de calcular o quanto você precisará no seu intercâmbio. Se planeje para um cenário difícil, onde as coisas não acontecem tão rápido. Por experiência própria, assisti tudo dar errado no meu primeiro mês em Londres e eu sou brasileira, jurava que daria tudo certo e não deixei a margem necessária. Resultado? "Pai, socorro!" É triste. rs

Então para que você não tenha que passar por esse mesmo perrengue que eu, vou te preparar melhor do que eu vim preparada.

CUSTOS PARA VIVER EM LONDRES:

ROUPAS: Reserve um dinheiro para comprar aqui as suas roupas de frio, se você vier no inverno. Aqui é incrivelmente mais barato que no Brasil. Mas reserve um dinheiro pra isso, porque é barato, e não de graça. Separe de £150,00 a £300,00 para isso, a depender da sua necessidade e da qualidade/marca de roupa que você queira comprar. Dá pra achar casaco aqui de £20,00 a £150,00 em uma mesma rua.

ACOMODAÇÃO: Londres é divida por Zonas, sendo a 1 a mais central. Você não precisa morar lá para estar bem localizado, porque é uma área muito cara e mais comercial. As zonas 2 e 3 são boas opções. O mais importante é estar numa área próxima a metrô e de ônibus 24h, assim você consegue programar melhor seus horários durante a semana e curtir tranquilo o fim de semana, quando você volta para casa num horário em que trens e metrôs já estão fechados.

Eu moro na Zona 3 e divido um apartamento com mais 2 pessoas, pago £75,00 por semana (é estranho para gente calcular assim, mas aqui as pessoas pagam por semana e recebem por hora de trabalho). É um valor bom. Além do aluguel você precisa pagar algumas taxas pela luz e gás, que vai acabar somando entre £5 e £10 por semana no seu orçamento.

TRANSPORTE: O transporte daqui é ótimo e proporcionalmente barato. Não converta ou você levará um susto. Se você vem para estudar por 12 semanas ou mais, ótimo. Você pode se aplicar como estudante para pagar uma tarifa MUITO menor, mas isso leva tempo (cerca de duas ou três semanas) e pode dar errado (como aconteceu comigo), o que te custará ainda mais tempo. O valor do transporte varia de acordo com as zonas que você frequente. Você pode comprar o Oyster card e pagar por semana (é a opção mais barata e que te dá direito a usar ilimitadas vezes metrô, trem e ônibus).

- se você mora na zona 3, você pagará pelas zonas 1, 2 e 3.
             Com Oyster Card = £32,00; Com Student Oyster Card = £22,50
- Se você mora na Zona 2, pagará pelas zonas 1 e 2.  
             Com Oyster Card = £27,00; Com Student Oyster card = £19,30. 

ALIMENTAÇÃO: Você cozinha? Acredite, se sua resposta é não, uma hora você tentará. Primeiro porque comer barato e saudável só é uma equação possível em Londres se você cozinhar na sua casa. A maior oferta de comida aqui é fast food e qualquer coisa fora disso vai pesar no seu orçamento. É claro que sair um dia ou outro para comer uma comida diferente não vai te levar à falência, mas todo dia vai sim, se você for um estudante do Brasil que veio com o dinheiro contado. rs

- Preço médio de comidas prontas na rua e de algumas coisas para a casa.
Fish and Chips = £3,45
McDonald's (Mc oferta) = £4,01
Tesco (sanduiche, suco e chocolate) = £2,00
Pizza Hut (rodízio) = £6,99 (em qualquer lugar de Londes, eles SEMPRE te darão o seu £0,01 de troco)
Donar Kebab = £5,00

Cereal (500g) = £1,65
Leite (1l) = £1,50
Pão (800g) = £1,39
Água (5L) = £1,29
Muffins (4 unidades) = £1,00
Miojo (o do copinho) = £0,99
Torta salgada (500g) = £1,00
Pizza (tamanho entre pequeno e médio) = £2,00
* Só sei isso de cabeça, porque foram as únicas coisas que comprei até agora.

- Tenho amigos que dizem gastar £40,00 por mês com comida. Não faço idéia de como eles conseguem isso. Eu gasto uma média de £80,00 por mês. Vou fazer um curso com eles e reduzir isso.rs

LAZER: Essa é a primeira coisa que você corta enquanto aguarda um emprego e sinal de dias melhores, mas se você se preparar bem não precisará fazer isso. Afinal, não é todo dia que você está na Europa. Toda semana acontecem festas da escola, onde você paga mais barato para entrar, cerca de £5,00. Lá dentro uma caneca de cerveja sai por uma média de £5,50.

Londres também tem muitas atrações turísticas gratuitas e muitas onde você pagará uma média de £15,00 a £20,00 para entrar.

Ainda tem as viagens pela Europa... eu ainda não viajei, mas acredito que com £150,00 dá pra conhecer um país próximo por um fim de semana.

EMPREGO: Não é tão simples encontrar emprego em Londres, você terá duas grandes dificuldades iniciais: não ser fluente em inglês e só poder trabalhar 10h por semana.  Encontrando emprego, ele dificilmente cobrirá suas despesas. Paga-se uma média de £5,00 a £6,00 por hora trabalhada. Ainda estou me estabilizando nesse quesito, então é complicado dar boas dicas.

No geral... Imagine que tudo dará errado no primeiro mês e você precisará de um outro "primeiro mês" para se organizar. Dois meses livres de preocupações é um bom primeiro passo para fazer do seu intercâmbio uma experiência inesquecível. Mas ok, não precisa inventar milhões de "poréns" e sempre adiar o seu sonho. Falar inglês é incrível e necessário... viver em outro país completamente diferente do seu é chocante, enriquecedor, divertido, angustiante e a melhor experiência do mundo.