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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Quantos pedaços te fazem inteiro?


Quantos pedaços são necessários pra formar um inteiro? E de quantos inteiros a nossa felicidade é feita? Quando eu era pequena o meu inteiro era de três. Meus irmãos já eram nascidos, mas era a perda dos meus pais que me assustava. Como imaginar a vida de criança sem os meus super-heróis do cotidiano? Não dava.

Mas então eu cresci e nos lugar das brigas constantes com os meus irmãos, surgiu a cumplicidade. Saíamos juntos, errávamos juntos e juntos crescíamos como pessoas. O meu inteiro já não era mais de três, mas de cinco. Nunca os vi como super-heróis, pois sempre os enxerguei com olhares mais humanos. Nunca esperei que fossem perfeitos, pois era nos seus defeitos que eu encontrava a paz da minha imperfeição.

Já deixei Rafael, meu irmão do meio, assumir uma culpa que era minha. Já gritei com Ricardo, meu irmão mais velho, sem motivo algum. Nunca fui a melhor irmã. Não sou a mais doce e compreensiva; sou birrenta, ciumenta e encrenqueira, mas do meu jeito torto consigo mostrar o meu amor.

E agora os dois estão noivos! O inteiro deles ganhou mais um pedaço. Preciso confessar que isso me assustou um pouco, porque quando eles abrem o seu coração pra uma nova parte, um quinto do meu coração vai junto com eles. O que me tranquiliza é que os meus pais me ensinaram que ser imperfeito é natural. Que para as brigas existem as pazes; e pras mágoas, o tempo. E que isso sempre é possível onde há amor. Então eu vejo os meus irmãos e as minhas cunhadas e sei que tudo ficará bem, porque, acima de qualquer coisa, sei que eles se amam. E assim, discretamente, também vou dividindo o meu coração em mais pedaços para recebê-las. 

Eu não vi os pedidos de casamento e, por isso, não posso me inspirar nos olhares das noivas ao ouvirem a pergunta tão esperada. Mas todo pedido de casamento é feito um pouco a cada dia: ele começa a pedir quando se oferece pra levar a mala mais pesada; e ela vai aceitando ao separar a roupa pra ele usar numa ocasião especial. Se o noivado é o aviso oficial de que chegou a hora de dar um passo adiante; é o entrelaçar das mãos e o olhar de cumplicidade que leva duas vidas ao altar.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A vitória da Alemanha mudou o meu placar

A Copa acabou e a sensação não é de vazio, mas de um preenchimento que faz falta. Foram dias invadidos por um futebol emocionante e por Fan Fests que ficarão marcadas na nossa memória. Gente do mundo todo reunida, celebrando e reinventando a forma de se comunicar. Pois a língua universal do brasileiro não é o inglês, mas a boa vontade. Nos esforçamos para compreender e receber os estrangeiros como só nós somos capazes: com muita festa e com um "não repara a bagunça".

A Copa foi o oposto do que esperávamos. Primeiro, porque ela realmente aconteceu; segundo, e principalmente, porque não foi apenas fato, mas história. A nossa Copa encantou a todos e passou a ser chamada de 'Copa das Copas', nos fazendo largar, por alguns instantes, as nossas roupas de protesto e nos vestirmos inteiros de orgulho do que somos. Não fomos campeões nos campos, mas fora deles até o Financial Times disse que ganhamos; e que, a partir de agora, deveria ser obrigatório que toda Copa tivesse praia e brasileiros.

A seleção do Brasil tropeçou nas semifinais, então na grande final foi a vez de pintarmos a Alemanha de verde e amarelo. Ou nos pintarmos de preto, vermelho e amarelo. Não dá pra saber ao certo em que momento nossos corações foram fisgados. Torcemos para que esse time, que nos fez chorar por um dia, mas que nos conquistou ao longo de um mês inteiro, fosse o vencedor. Torcemos como se ali estivesse o Brasil, porque de fato estava. Nem vou citar a nossa rivalidade com o seu oponente, a Argentina, embora tenha ajudado um pouco; pois a torcida ontem foi mesmo a favor da Alemanha.

A vitória da Alemanha significaria coroar um time que fez questão de nos conhecer. Que pediu licença quando entrou na nossa casa, elogiou a nossa comida e nos ajudou a lavar os pratos depois. A sua conquista reforça um estilo de jogar e de viver inspirador.

Se fosse a Argentina a vencedora, os discursos seriam de como um time que se arrastou a copa inteira acabou campeão 'na raça'. Apontaria a sorte e algumas estrelas individuais como responsáveis pelo seu triunfo. Em vez disso, ganhou a Alemanha e ouvimos a exaltação do planejamento, comprometimento, fortalecimento do coletivo e humildade. Humildade não só em se entregar aos braços de uma população no interior da Bahia, abraçando a sua cultura e investindo no seu desenvolvimento. Mas, sobretudo, humildade há alguns anos, pra perceber que eles precisavam de metas claras e de trabalho duro pra chegar ao lugar que desejavam.

Eu aproveitei a inspiração dessa paixão pela Alemanha, que acometeu a mim e a grande parte dos brasileiros, pra seguir o seu exemplo. Resolvi mudar! Ontem eu abracei a humildade e me reconheci pequena. Refiz minhas metas e meus planos de ação, pois decidi que vou conquistar os meus objetivos e não serei refém do acaso nessa jornada. Essa quarta eu escrevi que também perderia de 7x1, mas ontem eu comecei a trilhar o meu caminho pra ganhar de 1x0.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Eu também perderia de 7x1


E eu não me refiro à escalação dos jogadores, nem ao esquema táctico que eu escolheria. Eu perderia porque também chegaria batucando naquele ônibus, achando que em algum lugar desse mundo tem um destino conspirando a meu favor e que, mesmo com meu time desfalcado e mantendo como titular quem não merece, ainda assim, de algum modo, eu sairia dali campeã.
É a verdade. Eu exijo da seleção a disciplina e o comprometimento que nem eu mesma tenho. Ah, eles ganham milhões pra isso? Não importa! A forma como a gente encara a vida vai muito além da remuneração que recebemos.
Toda semana eu me prometo que serei disciplinada com a minha alimentação e com a academia. Não exijo de mim o meu melhor, não almejo o corpo de uma panicat, apenas quero saúde e poder usar um biquíni sem ficar constrangida. Mas eis que vou batucando nessa missão, achando que faltar 1, 2 ou 3 dias na semana não vai fazer tanta diferença. Que aquela coxinha é uma bobagem e não vai mudar o resultado de nada. Que aquela pizza com refrigerante e uma torta de sobremesa não vão sequer ser notadas no resultado final... e sigo batucando.
Toda semana programo a minha meta de estudos. Uma meta simples e pouco audaciosa, que talvez nem me leve tão longe, mas que apenas me mantenha caminhando, e nem isso eu cumpro. Me dou a desculpa de que naquele dia trabalhei demais e estou cansada. De que a minha mente já não é capaz de absorver mais conhecimento e que, por isso, o melhor é descansar e esperar o dia seguinte. Talvez o jogo seguinte, ou a copa seguinte, se eu fosse um daqueles 11 em campo.
Toda semana eu falho! Mas falho em segredo. Perco de 7x1, às vezes até de mais, mas ninguém fica sabendo. E eu culpo o governo e as poucas oportunidades pelo meu insucesso. Não que eles sejam inocentes, longe disso, mas sei que sou um pouco cúmplice desse atentado.

Com que moral posso julgar a minha seleção, mandar os jogadores pararem de batucar no ônibus e se concentrarem antes de cada jogo? Talvez a mesma moral de um furador de fila criticando a corrupção desse país. É que a gente esquece que esses jogadores, mesmo morando fora, nasceram aqui, e que como a gente eles também acham que Deus é brasileiro e isso já é o bastante.