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quarta-feira, 30 de março de 2011

Oxford - England

Uma cidade pequena, aconchegante, cercada de cultura e história. Chegar em Oxford é como ser transportando para uma outra época. Não se vêem arranha-céus e prédios com arquitetura inovadora, como uma senhora que não se arrisca a colocar uma saia mais curta, mas uma exibição orgulhosa de construções antigas, como se a cidade inteira fosse um só castelo.

Pode-se conhecer tudo a pé e a nossa primeira caminhada nos levou ao Museu de Ashmoleam.  Logo na entrada são entregues dois papéis: um com uma sugestão de qual seria a melhor ordem para visitar o Museu e o segundo com o nome e localização das obras mais famosas. É um procedimento aparentemente comum na Inglaterra e que faz uma pessoa metódica como eu pular de felicidade. O acervo é maravilhoso, mas a preocupação em educar os seus visitantes me encheu os olhos. Há inúmeras ações de conscientização espalhadas entre as obras de arte, como as das fotos seguintes. 
Depois do Museu, fomos almoçar num calçadão, onde se viam muitos artistas de rua se apresentando e uma ação promovida por japoneses para angariar fundos e ajudar na recuperação do Japão. Por uma boa causa, me arrisquei num biscoito feito de chá verde. O bichinho era feio de doer, mas uma delícia.
Após o almoço a meta era ir direto à Christ Church, onde foram rodados os filmes de Harry Potter, mas havia uma livraria no meio do caminho. No meio do caminho havia uma livraria. Fiquei nervosa. Qualquer livro era somente £2. Qualquer um! Comprei três livros e por mim voltava em Oxford só pra passar um dia inteirinho por lá.
Comprados os livros, finalmente Harry Potter! Era mais que apenas um ponto turístico pra mim...

Assisti Harry Potter pela primeira vez aos treze anos, mas foi aos 17 que me apaixonei. Estava no cursinho pré-vestibular quando resolvi que merecia/precisava de um descanso. Li os 5 primeiros livros de Harry Potter, que somados são 2.203 páginas, em uma semana. Ia pra todas as aulas, mas era só o professor parar pra respirar que eu sacava o livro e lia mais um trecho. Era viciante, relaxante e incrível. Depois comprei o 6º livro já na pré-venda e li em dois dias assim que o recebi. O 7º eu até tentei, mas não consegui esperar. Li da internet mesmo. Depois comprei o livro de verdade e reli, amando cada página.

Explicada a minha paixão, vocês podem entender a emoção que eu senti com essa visita. Eu vi, toquei e tirei foto da escadaria em que Harry conhece e enfrenta Malfoy pela primeira vez; do salão comunal, onde, entre outros acontecimentos, o chapéu seletor coloca Harry na Grifinória; do gramado onde acontecem os torneios de Quadribol. A sensação é parecida com a de  ser fã de um desenho animado e comprar um boneco do personagem favorito. Dá tristeza que ele não fala, não anda, não se mexe, mas é muito bom assim mesmo. Faltou Hogwarts existir de verdade, mas estar lá foi incrível.

Visitamos ainda alguns campi da Universidade de Oxford e terminamos nosso dia num Pub (mais inglês, impossível), onde conhecemos alguns brasileiros e ficamos até a hora da partida. Foi quase triste voltar pra Londres...

quarta-feira, 23 de março de 2011

St. Patrick's Day



Que dia é esse que transforma uma cidade em verde, que deixa os pubs com cara de sábado em plena quinta-feira, que faz a gente ter vontade de saber tudo sobre a Irlanda e experimentar cerveja preta?

17 de Março, St. Patrick's Day, é um dia divertido e muito esperado. Os principais pubs irlandeses de Londres mantiveram cronômetros gigantes fazendo contagem regressiva.

St. Patrick, curiosamente, não era Irlandês. Na verdade ele foi raptado adolescente por piratas e transformado em escravo na Irlanda. Num sonho, disse ter recebido de Deus instruções que o levaram à libertação. Mais tarde ele quis voltar à Irlanda, já como Bispo, e evangelizar o povo. E agora é que aparece o tal do Trevo de três folhas, tão propagado e principal símbolo decorativo desse dia. St. Patrick usava essa folhinha para explicar a Santíssima Trindade. Eu, na minha Santíssima ignorância e superstição, JURAVA que St. Patrick's Day era um dia de sorte e que o trevo era o talismã. Pelo menos o pensamento positivo deu certo.

Patrícia, que aparece comigo na foto aí embaixo, tinha perdido o passaporte dela. O que é um problemão! Se você tiver o seu passaporte furtado ou perdido, você precisa ir até uma delegacia e prestar queixa. Feito isso, você deve se dirigir ao Consulado Brasileiro, numa transversal da Oxford Street, em posse de inúmeros documentos e solicitar o novo passaporte, que sai no mesmo dia, mas que te custará £128,00. Claro, se você tiver a "sorte" de só perder o passaporte depois de já ter feitos todas as viagens que você queria pela Europa e agora sua única vontade é voltar para o Brasil, basta solicitar uma autorização de retorno. Esta também será paga, não sei ao certo o preço, mas acredito que seja mais barata.

Enfim... achamos o passaporte! Depois dessa, só tomando algumas Guinness e brindando ao padroeiro da Irlanda!

terça-feira, 15 de março de 2011

Tô na Europa, mas não tô besta!


Tô é com saudade da minha carne assada com farofa de banana, de falar oxente e todo mundo me reconhecer baiana, de sentir calor na beira da praia e tomar água de coco.

Saudade de chamar quem eu não conheço de meu tio, de chamar de meu um pai que também é dos meus irmãos, de usar a fama de preguiça, que alguém ousou um dia dizer que eu tinha, pra tirar um descanso dessa vida corrida sem me preocupar.

Sei que tô na Europa, o centro do mundo, falando inglês, que é chique e universal, mas trocava fácil o "fish and chips" por um acarajé com vatapá.

Tô em Londres, essa cidade grande e com gente do mundo todo. Onde até relógio é famoso e não ser pontual é que é exceção. Mas ah, minha Bahia, nessa terra de rainha, minha saudade é do "meu rei".

domingo, 13 de março de 2011

Nine Thousand

Ela que esperava ansiosamente por ele, finalmente foi convidada. Ela que ficou com o gosto do último beijo, foi encontrá-lo. Ela que sentia o adeus próximo, resolveu estender os minutos fingindo que o tempo estava parado.

Eles tomaram café e falaram do mundo. Eles tomaram cerveja e falaram de si. Ela se enrolou nas cobertas e tentou lembrar de cada minuto dos últimos dois meses.

Ela mal disfarçava a ansiedade pelo primeiro beijo. Ela pensava: se ele não beijar, eu beijo. Ela sonhou e só então conseguiu dormir.

Ela tremeu dos pés a cabeça quando os lábios dele a tocaram. Ela relaxou os ombros e quase foi feliz quando ele a beijou. Ela acordou para sonhar desperta.

No fim da noite ela queria casar. Quando se despediram, ela não queria deixar. Quando levantou da cama era só saudade.

quinta-feira, 3 de março de 2011

"Questão de segurança"


Ontem, como de costume, fui pegar o metrô na Estação de Piccadilly para voltar para casa. Já havia descido as escadas e me aproximava do corredor que dá acesso ao trem, quando ouvi a mensagem: "por questão de segurança, todos devem deixar a estação imediatamente!" A voz insistia. Todos começaram a sair. Já próximo da saída perguntei a uma das pessoas responsáveis pela estação o que estava acontecendo. Recebi a resposta: "O que está acontecendo não importa, você precisa deixar a estação." Saí. Já na rua a gente podia ouvir e ver vários carros da polícia, sirenes ligadas, passando apressados. O que aconteceu?

Ninguém sabe dizer. Quem mora aqui responde com naturalidade: "Pode ser qualquer coisa: incêndio, bomba...". Bomba? Pois é, pode ser. Ninguém sabe, nada nos jornais... aliás, no jornal de hoje tinha essa propaganda no mínimo interessante.

Terrorismo. Que coincidência! Ontem à noite assisti a um filme que me deixou perplexa: "Jean Charles", a história de um brasileiro inocente que foi morto por esse medo que impede de pensar e que se espalhou pelo mundo depois de 11 de setembro. Para quem não lembra da história... duas semanas antes, terroristas explodiram uma bomba em um ônibus de Londres. Queriam, segundo eles, fazer-nos sentir a dor de ver nossos inocentes serem mortos sem qualquer razão. Uma resposta a essa guerra sem explicação no Iraque.

Desde o ataque às Torres Gêmeas, o mundo assiste à ruína da liberdade individual. Ir e vir nunca foi tão difícil, milimetricamente inspecionado e perigoso. Jean Charles foi morto na estação de metrô Stockwell, com sete tiros na cabeça, porque o confundiram com um muçulmano, que era suspeito de ser um dos terroristas foragidos. Ou seja, bastava ser/parecer um muçulmano, na hora errada e no lugar errado para ser morto sem qualquer chance de se defender.

Antes de vir, imaginava que numa cidade cosmopolita como Londres, onde você cresce com gente de todo o mundo, racismo seria o último sentimento que eu encontraria. A verdade é que de perto não há mistura. Sim, tem gente aqui de todo o mundo, mas tem a região dos Chineses, a dos Indianos, a dos Brasileiros, a dos Turcos... Eles não crescem juntos, crescem se vendo, mas sem se entender. Até algumas igrejas tem horários diferentes de missa para cada povo. De manhã um, de tarde outro e de noite outro. Qual a explicação? Dizem que é mais fácil orar na língua nativa. Hã? Essas mesmas pessoas passam o dia todo conversando, trabalhando, estudando, fazendo seja lá o que for, em inglês, por que na hora de rezar terão dificuldade a ponto de justificar uma segregação?

O problema, no entanto, é que se tal grupo é vítima de preconceito, esse mesmo grupo é preconceituoso com outras pessoas. Já ouvi tantos absurdos, formando uma cadeia sem fim de discriminação, que quase perdi a fé num mundo livre de preconceitos.

Enquanto houverem guetos sociais, raciais, nacionais, religiosos...
Enquanto não perguntarem primeiro e só atirarem depois...
Enquanto a vida daqueles que desconhecemos não tiver o mesmo valor da vida daqueles que amamos, não teremos espaço para um mundo de paz. Paz pressupõe entendimento, que não exige um mesmo idioma, mas um mesmo gesto: respeito.