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quinta-feira, 3 de março de 2011

"Questão de segurança"


Ontem, como de costume, fui pegar o metrô na Estação de Piccadilly para voltar para casa. Já havia descido as escadas e me aproximava do corredor que dá acesso ao trem, quando ouvi a mensagem: "por questão de segurança, todos devem deixar a estação imediatamente!" A voz insistia. Todos começaram a sair. Já próximo da saída perguntei a uma das pessoas responsáveis pela estação o que estava acontecendo. Recebi a resposta: "O que está acontecendo não importa, você precisa deixar a estação." Saí. Já na rua a gente podia ouvir e ver vários carros da polícia, sirenes ligadas, passando apressados. O que aconteceu?

Ninguém sabe dizer. Quem mora aqui responde com naturalidade: "Pode ser qualquer coisa: incêndio, bomba...". Bomba? Pois é, pode ser. Ninguém sabe, nada nos jornais... aliás, no jornal de hoje tinha essa propaganda no mínimo interessante.

Terrorismo. Que coincidência! Ontem à noite assisti a um filme que me deixou perplexa: "Jean Charles", a história de um brasileiro inocente que foi morto por esse medo que impede de pensar e que se espalhou pelo mundo depois de 11 de setembro. Para quem não lembra da história... duas semanas antes, terroristas explodiram uma bomba em um ônibus de Londres. Queriam, segundo eles, fazer-nos sentir a dor de ver nossos inocentes serem mortos sem qualquer razão. Uma resposta a essa guerra sem explicação no Iraque.

Desde o ataque às Torres Gêmeas, o mundo assiste à ruína da liberdade individual. Ir e vir nunca foi tão difícil, milimetricamente inspecionado e perigoso. Jean Charles foi morto na estação de metrô Stockwell, com sete tiros na cabeça, porque o confundiram com um muçulmano, que era suspeito de ser um dos terroristas foragidos. Ou seja, bastava ser/parecer um muçulmano, na hora errada e no lugar errado para ser morto sem qualquer chance de se defender.

Antes de vir, imaginava que numa cidade cosmopolita como Londres, onde você cresce com gente de todo o mundo, racismo seria o último sentimento que eu encontraria. A verdade é que de perto não há mistura. Sim, tem gente aqui de todo o mundo, mas tem a região dos Chineses, a dos Indianos, a dos Brasileiros, a dos Turcos... Eles não crescem juntos, crescem se vendo, mas sem se entender. Até algumas igrejas tem horários diferentes de missa para cada povo. De manhã um, de tarde outro e de noite outro. Qual a explicação? Dizem que é mais fácil orar na língua nativa. Hã? Essas mesmas pessoas passam o dia todo conversando, trabalhando, estudando, fazendo seja lá o que for, em inglês, por que na hora de rezar terão dificuldade a ponto de justificar uma segregação?

O problema, no entanto, é que se tal grupo é vítima de preconceito, esse mesmo grupo é preconceituoso com outras pessoas. Já ouvi tantos absurdos, formando uma cadeia sem fim de discriminação, que quase perdi a fé num mundo livre de preconceitos.

Enquanto houverem guetos sociais, raciais, nacionais, religiosos...
Enquanto não perguntarem primeiro e só atirarem depois...
Enquanto a vida daqueles que desconhecemos não tiver o mesmo valor da vida daqueles que amamos, não teremos espaço para um mundo de paz. Paz pressupõe entendimento, que não exige um mesmo idioma, mas um mesmo gesto: respeito.


6 comentários:

Renauty disse...

Em 2005, quando explodiram uma bomba num metrô de Londres, eu tinha acabado de deixar o país!

Nanda Barata disse...

nanda, é sério!!! como você consegue issoooooooo????
você tem o dom da comunicação e da clareza ... você toca as pessoas quando escreve. Aliás, você toca as pessoas quando escreve, quando fala, quando olha, quando sorri ... enfim ... só existindo!
Assino embaixo em cada palavrinha sua.
O problema é que as pessoas não se enxergam mais, elas podem se ver, mas não conseguem se enxergar.
Esquecemos que no final das contas, não há raças ou nada do tipo. Somos todos seres da mesma espécie, a humana. Podendo viver como irmãos escolhemos viver como desconhecidos. Pode???
Poder até pode, mas não deveria!

Enfim ... saudadeeees flor!!! Saudade de tudo que é particularmente seu, saudade de você!
ps.: minha companheira de apto (sem ser liu) adoroooou seu post, e disse que vc deveria ser jornalista!!!

Pablo Marchesini disse...

quando o seu ultimo post pensei escrever o que nanda acabou de escrever! entao uso das palavras delas as minhas!

e é interessante o que voce falou! acho muito interessante a diversidade cultural que uma cidade comospolita pode lhe proporcionar, mas isso nem sempre quer dizer que essa mistura de culturas vivam em perfeita uniao.
o que é lamentável! e como você mesmo disse, so encontraremos a paz mundial quando reinar o sentimento nobre que é o respeito!

vamos ter esperança ou morreremos esperando?

abraços

Nanda Barata disse...

eu voto pela esperança!!!

mais que isso ... eu tenho fé na HUMANIDADE!!!

Lívia Dimas disse...

Você deveria atualizar o blog todo dia, Fernanda !!! Você escreve muito bem. Chega dá pena quando os textos acabam.
Concordo plenamente com o que disse.

Nanda Campelo disse...

O tema é triste e sério, mas fico feliz com os comentários de vcs.

Feliz por renatinha ter ido embora antes de toda essa bagunça;
Feliz por nanda manter a esperança e contagiar a gente com esse otimismo;
Feliz pelos meus textos terem chegado até a amiga de nanda (q não é liu e eu não sei o nome.rs);
Feliz por pablito usar de toda sua cultura pra questionar;
Feliz por Lívia, que viu isso tudo de perto, dar seu aval pra minha opinião.

Um beijão pra vcs. =)