E eu não me refiro à escalação dos jogadores, nem ao esquema táctico que
eu escolheria. Eu perderia porque também chegaria batucando naquele ônibus,
achando que em algum lugar desse mundo tem um destino conspirando a meu favor e
que, mesmo com meu time desfalcado e mantendo como titular quem não merece,
ainda assim, de algum modo, eu sairia dali campeã.
É a verdade. Eu exijo da seleção a disciplina e o comprometimento que nem
eu mesma tenho. Ah, eles ganham milhões pra isso? Não importa! A forma como a
gente encara a vida vai muito além da remuneração que recebemos.
Toda semana eu me prometo que serei disciplinada com a minha alimentação
e com a academia. Não exijo de mim o meu melhor, não almejo o corpo de uma
panicat, apenas quero saúde e poder usar um biquíni sem ficar constrangida. Mas
eis que vou batucando nessa missão, achando que faltar 1, 2 ou 3 dias na semana
não vai fazer tanta diferença. Que aquela coxinha é uma bobagem e não vai mudar
o resultado de nada. Que aquela pizza com refrigerante e uma torta de sobremesa
não vão sequer ser notadas no resultado final... e sigo batucando.
Toda semana programo a minha meta de estudos. Uma meta simples e pouco
audaciosa, que talvez nem me leve tão longe, mas que apenas me mantenha
caminhando, e nem isso eu cumpro. Me dou a desculpa de que naquele dia
trabalhei demais e estou cansada. De que a minha mente já não é capaz de
absorver mais conhecimento e que, por isso, o melhor é descansar e esperar o
dia seguinte. Talvez o jogo seguinte, ou a copa seguinte, se eu fosse um
daqueles 11 em campo.
Toda semana eu falho! Mas falho em segredo. Perco de 7x1, às vezes até de
mais, mas ninguém fica sabendo. E eu culpo o governo e as poucas oportunidades
pelo meu insucesso. Não que eles sejam inocentes, longe disso, mas sei que sou
um pouco cúmplice desse atentado.
Com que moral posso julgar a minha seleção, mandar os jogadores pararem
de batucar no ônibus e se concentrarem antes de cada jogo? Talvez a mesma moral
de um furador de fila criticando a corrupção desse país. É que a gente esquece
que esses jogadores, mesmo morando fora, nasceram aqui, e que como a gente eles
também acham que Deus é brasileiro e isso já é o bastante.
Um comentário:
Sensacional !
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