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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Eu também perderia de 7x1


E eu não me refiro à escalação dos jogadores, nem ao esquema táctico que eu escolheria. Eu perderia porque também chegaria batucando naquele ônibus, achando que em algum lugar desse mundo tem um destino conspirando a meu favor e que, mesmo com meu time desfalcado e mantendo como titular quem não merece, ainda assim, de algum modo, eu sairia dali campeã.
É a verdade. Eu exijo da seleção a disciplina e o comprometimento que nem eu mesma tenho. Ah, eles ganham milhões pra isso? Não importa! A forma como a gente encara a vida vai muito além da remuneração que recebemos.
Toda semana eu me prometo que serei disciplinada com a minha alimentação e com a academia. Não exijo de mim o meu melhor, não almejo o corpo de uma panicat, apenas quero saúde e poder usar um biquíni sem ficar constrangida. Mas eis que vou batucando nessa missão, achando que faltar 1, 2 ou 3 dias na semana não vai fazer tanta diferença. Que aquela coxinha é uma bobagem e não vai mudar o resultado de nada. Que aquela pizza com refrigerante e uma torta de sobremesa não vão sequer ser notadas no resultado final... e sigo batucando.
Toda semana programo a minha meta de estudos. Uma meta simples e pouco audaciosa, que talvez nem me leve tão longe, mas que apenas me mantenha caminhando, e nem isso eu cumpro. Me dou a desculpa de que naquele dia trabalhei demais e estou cansada. De que a minha mente já não é capaz de absorver mais conhecimento e que, por isso, o melhor é descansar e esperar o dia seguinte. Talvez o jogo seguinte, ou a copa seguinte, se eu fosse um daqueles 11 em campo.
Toda semana eu falho! Mas falho em segredo. Perco de 7x1, às vezes até de mais, mas ninguém fica sabendo. E eu culpo o governo e as poucas oportunidades pelo meu insucesso. Não que eles sejam inocentes, longe disso, mas sei que sou um pouco cúmplice desse atentado.

Com que moral posso julgar a minha seleção, mandar os jogadores pararem de batucar no ônibus e se concentrarem antes de cada jogo? Talvez a mesma moral de um furador de fila criticando a corrupção desse país. É que a gente esquece que esses jogadores, mesmo morando fora, nasceram aqui, e que como a gente eles também acham que Deus é brasileiro e isso já é o bastante.