Quantos pedaços são necessários pra formar um inteiro? E de quantos inteiros a nossa felicidade é feita? Quando eu era pequena o meu inteiro era de três. Meus irmãos já eram nascidos, mas era a perda dos meus pais que me assustava. Como imaginar a vida de criança sem os meus super-heróis do cotidiano? Não dava.
Mas então eu cresci e nos lugar das brigas constantes com os meus irmãos, surgiu a cumplicidade. Saíamos juntos, errávamos juntos e juntos crescíamos como pessoas. O meu inteiro já não era mais de três, mas de cinco. Nunca os vi como super-heróis, pois sempre os enxerguei com olhares mais humanos. Nunca esperei que fossem perfeitos, pois era nos seus defeitos que eu encontrava a paz da minha imperfeição.
Já deixei Rafael, meu irmão do meio, assumir uma culpa que era minha. Já gritei com Ricardo, meu irmão mais velho, sem motivo algum. Nunca fui a melhor irmã. Não sou a mais doce e compreensiva; sou birrenta, ciumenta e encrenqueira, mas do meu jeito torto consigo mostrar o meu amor.
E agora os dois estão noivos! O inteiro deles ganhou mais um pedaço. Preciso confessar que isso me assustou um pouco, porque quando eles abrem o seu coração pra uma nova parte, um quinto do meu coração vai junto com eles. O que me tranquiliza é que os meus pais me ensinaram que ser imperfeito é natural. Que para as brigas existem as pazes; e pras mágoas, o tempo. E que isso sempre é possível onde há amor. Então eu vejo os meus irmãos e as minhas cunhadas e sei que tudo ficará bem, porque, acima de qualquer coisa, sei que eles se amam. E assim, discretamente, também vou dividindo o meu coração em mais pedaços para recebê-las.
Eu não vi os pedidos de casamento e, por isso, não posso me inspirar nos olhares das noivas ao ouvirem a pergunta tão esperada. Mas todo pedido de casamento é feito um pouco a cada dia: ele começa a pedir quando se oferece pra levar a mala mais pesada; e ela vai aceitando ao separar a roupa pra ele usar numa ocasião especial. Se o noivado é o aviso oficial de que chegou a hora de dar um passo adiante; é o entrelaçar das mãos e o olhar de cumplicidade que leva duas vidas ao altar.