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domingo, 17 de abril de 2011

Intercâmbio [Na metade...]


Não sei se mudei aos olhos dos outros, mas aos meus próprios olhos eu jamais serei a mesma.

Ouvirei as palavras nunca e impossível com incredulidade
Duvidarei de quem disser que se acostuma com saudade
Olharei os homens de sonhos com admiração
E os de sonhos quebrados com piedade.

A cidade que me assustou de início, de sinal em sinal me aponta o caminho.

terça-feira, 5 de abril de 2011

E os pobres, quem defende?



Estão todos indignados com o Deputado racista e homofóbico. Querem-lhe a cabeça numa bandeja. Se fosse um artista que usasse do espaço que ocupa na mídia para propagar idéias como essas, eu ficaria surpresa, mas trata-se de um político, eleito para nos representar com suas idéias e bandeiras, por isso estou mesmo é chocada. Chocada por perceber que o buraco onde colocamos nossos preconceitos é muito mais embaixo.

Apesar de tudo e sem nenhuma intenção de minimizar o horror das declarações, estas somente estão sendo combatidas com tanto fervor porque, embora firam uma minoria, esta é representada. Nós temos políticos, artistas, gente com voz e vez, negros e homossexuais. E a discriminação sofrida pelos pobres, quem discute? Pobre não chega ao poder. Quando chega, deixa de ser pobre.

Outro dia aqui em Londres, numa famosa rede de fast food, eu presenciei uma cena chocante e que me jogou na cara o meu próprio preconceito. Nessa mesma lanchonete, a todo instante entram pessoas para usar o banheiro. Não compram nada, apenas vão até os banheiros, usam e vão embora. Ninguém reclama, afinal eles tem o perfil do cliente. Pois um senhor de rua juntou suas moedas, comprou um hambúrguer e ia se dirigindo até as cadeiras para sentar e desfrutar de um serviço disponível aos clientes, grupo ao qual ele acabara de pagar para pertencer. Não foi o bastante. Não bastava pagar pelo hambúrguer, seria preciso pagar também por um banho, barbeiro, roupas novas e perfume. Ele foi impedido de sentar-se. A sua expressão de dor, de indignação e impotência me feriram de uma maneira insuportável. Ao sair, ele cuspiu na porta, como que para demonstrar que era ele quem tinha nojo de tudo aquilo. A fome deve tê-lo obrigado a comer aquele pão de humilhação e pensar nisso me fere ainda mais.

Que tipo de pessoa somos nós? Ele não foi impedido de entrar porque o gerente é preconceituoso, como o Deputado Bolsonaro. Ele foi impedido de entrar porque nós sentiríamos repulsa e constrangimento ao comer ao lado de um senhor de idade sujo, vestido de trapos e com dinheiro somente para comprar um hambúrguer. Ele foi barrado porque quando a gente paga pelo mesmo hambúrguer que ele, a gente também paga pra sentar num lugar fechado, onde não precisamos lembrar que milhares morrem de fome enquanto a gente se sente cheio demais pra tomar todo o refrigerante depois do sanduiche e batata.

Bolsonaro é um ignorante num assunto em que muitos de nós já somos esclarecidos: cor não define e sexualidade é opção. Mas e se Preta Gil não perguntasse pela mulher negra, mas pela pobre e sem estudo? Qual seria a resposta? De que tamanho seria a nossa indignação?